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Foto: Lucas Liausu |
Globoesporte.com
Um dos grandes ídolos da história recente do Sport, o ex-goleiro Bosco voltou ao Recife nesta semana e, como não poderia deixar de ser, visitou a sua casa. É desta maneira que ele se refere à Ilha do Retiro, local onde viveu os melhores momentos de sua carreira durante sete anos - somadas as duas passagens. O olhar distante e ao mesmo tempo centrado nas arquibancadas da Ilha do Retiro deixava claro o sentimento do ex-camisa 1. Saudade. Não tinha outra palavra para descrever o momento, quatro anos depois da última vez em que pisou na Ilha do Retiro.
- Quando eu entrei aqui veio muita coisa na minha cabeça. É muito marcante rever tudo isso. A memória da gente é um pouco ingrata. Se você não rever algumas coisas, acaba esquecendo mesmo. Essa vinda aqui foi boa. Vivi momentos de muitas alegrias aqui e não podia deixar de passar na Ilha para reencontrar as pessoas que fizeram parte da minha história. Isso tudo é muito fantástico, marcante para mim. Foi aqui que comecei a minha vida no futebol, e aqui penso em tudo de bom que vivi.
Bosco marcou época no Sport. Foi Campeão Pernambucano sete vezes e conseguiu ser convocado para a seleção brasileira vestindo a camisa rubro-negra. As conquistas levantaram uma discussão de uns anos para cá. O atual dono da camisa 1, Magrão, foi eleito o maior goleiro da história do clube em uma eleição realizada entre os torcedores. A margem em relação a Bosco não foi tão alta, e até hoje alguns torcedores defendem o dono da camisa 1 na década de 90. A defesa, no entanto, é em vão. Para Bosco, não existe comparação entre ele e o amigo Magrão.
- Sem dúvidas, ele é o maior goleiro da história do Sport. Tem mais tempo na casa e ainda está fazendo a sua história. Já fez, mas continua produzindo. Ele merece tudo que está passando. Sou um admirador dele. Jogamos juntos na Portuguesa e no Fortaleza, e quem o conhece sabe que ele é um cara fantástico. Torço muito por ele. Se eu for ficar falando de Magrão vão faltar elogios.
Bosco teve duas passagens pelo Sport. Na primeira ganhou praticamente tudo que disputou. O ex-goleiro pode dizer que fez parte de alguns dos melhores times da história do clube. Fala com saudosismo da equipe de 1998, que conquistou o Campeonato Pernambucano de maneira invicta, mas não consegue deixar de citar o time de 2000, que também levantou o taça do Estadual e ainda brilhou na Copa João Havelange ao conquistar o segundo lugar na primeira fase - sendo eliminado nas quartas de final pelo Grêmio de um promissor Ronaldinho Gaúcho.
- O time de 98 foi melhor, mas o de 2000 foi mais unido. Tínhamos um time um pouco mais limitado, mas ganhamos muita coisa. Caímos na Copa João Havelange em um jogo roubado contra o Grêmio. Passamos por cima de muita coisa em 2000, com salários atrasados inclusive, e conseguimos vencer. Em 1998, a gente sabia que ia vencer quando entrava em campo. A confiança era muito grande. Ganhamos vários clássicos de goleada. Foi um ano brilhante.
E o ano de 1998 também é lembrado por Bosco quando perguntado qual foi a sua grande atuação na Ilha do Retiro. Ele relembra uma partida contra o São Paulo, quando teve a oportunidade de defender um pênalti já no final do jogo. O Leão ganhou a partida por 1 a 0 com um gol justamente após a sua defesa.
- Meu principal jogo foi em 98 contra o São Paulo. Foi marcante por tudo que envolveu a partida. Peguei um pênalti do Dodô aos 43 minutos, e aos 47 Róbson fez o gol da nossa vitória. Saímos de campo ovacionados, e depois daquela vitória tivemos uma alavancada muito grande no torneio.
Crise, brigas e críticas
Quem vê Bosco hoje falando com tanta naturalidade da sua história com o Sport, não imagina que a relação nem sempre foi só de amor. Em 2004, ele chegou a declarar que nunca mais jogaria com a camisa rubro-negra e que o seu ciclo havia sido encerrado. O momento era de raiva e o desabafo foi por conta da sua saída do clube naquele mesmo ano.
- Eu saí do clube magoado porque abri mão de muita coisa para voltar. Abri mão de ganhar um salário melhor na Portuguesa na época. Achei injusto, mas sei que faz parte do futebol. Depois de um tempo a gente acaba entendendo. Foi um momento de desabafo quando falei que não jogaria mais pelo clube.
A declaração foi dada quando ele ainda defendia o Fortaleza, mas o momento mais tenso da relação foi em 2007. Bosco já era jogador do São Paulo, estava no banco de reservas durante uma partida contra o Sport e chamou muita atenção por ter comemorado de forma efusiva os gols do clube paulista. Parecia mais um desabafo, mas ele garante que não.
- O mais grave foi quando comemorei o gol do São Paulo contra o Sport, mas aquilo foi uma situação atípica. Estava no São Paulo vivendo um bom momento, um clube que pagava uma premiação boa por vitória e, além de tudo, o Souza, autor de um dos gols, era meu amigo particular. Ele não passava por um bom momento e a torcida pegava no seu pé. Quando fez o gol veio correndo em minha direção e eu não podia ficar parado, pois sentia aquela dor com ele.
"Não" ao Santa Cruz
Bosco encerrou a sua participação no São Paulo no fim da temporada 2011. Nas férias, resolveu viajar para os Estados Unidos e acabou ficando pelo país. Não havia decidido ainda se iria encerrar a carreira, mas a falta de propostas fez com que a decisão fosse tomada. Segundo ele, apenas dois clubes o procuraram. O primeiro foi o Fortaleza, que não apresentou um bom negócio e o segundo foi o Santa Cruz, mas neste caso a conversa nem foi aberta.
- Sandro estava com Zé Teodoro no Santa Cruz e foi aos Estados Unidos passear. Nos encontramos e ele perguntou se eu não queria ir jogar no Santa. Até pensei, mas decidi não aceitar e encerrar a carreira. Acho que o jogador tem que ser profissional e jogar onde lhe querem, mas naquele caso não tinha necessidade. Eu não estava precisando e não tinha porque encarar aquilo. Para mim, seria como uma aventura. E eu poderia estar abrindo mão de toda a história que eu tinha construído no Sport.