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Gilberto em sua apresentação(Foto:Aldo Carneiro/Pernambuco Press) |
Rápido, habilidoso e dono de um ótimo poder de finalização.
Foram com essas características que o atacante Gilberto conquistou a torcida do
Santa Cruz em 2011, ao ajudar o Tricolor a sagrar-se campão Pernambucano.
Qualidades que também fizeram o Internacional apostar em sua contratação ainda
naquele ano. Contudo, se dentro de campo o centroavante era dono de uma grande
desenvoltura, fora das quatro linhas a história era outra.
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(Foto:Autor não informado/Agência Estado) |
Tímido, introspectivo e com uma enorme resistência na hora
de conceder entrevistas, o atleta sentiu o peso de se transferir para um clube
repleto de estrelas como o Internacional e acabou perdendo espaço. Principalmente por ter como
concorrente direto ninguém menos que Leandro Damião.
A falta de oportunidades no Colorado fez Gilberto ter uma
certeza: tinha que buscar outro clube para retomar a carreira. E, por uma
daquelas coincidências do destino, o atacante acertou justamente com aquele que
um dia foi sua vitima preferida, o Sport.
- Não via o Sport como inimigo, mas tinha que fazer gols. As
finais do Pernambucano foram muito importantes para minha carreira, mas agora
vou jogar com a camisa do Sport.
Se a timidez foi um empecilho durante a sua passagem pelo
Beira-Rio, o mesmo não deverá acontecer na Ilha do Retiro. Seguro, eloquente e
brincalhão, Gilberto garantiu que chegou ao Rubro-negro para aniquilar a má
fama da camisa 9 do clube, que nos últimos anos sofre para encontrar um
artilheiro.
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM/PE, Gilberto fala do
início de sua carreira, da sua passagem pelo Internacional, comenta como a vida
fora das quatro linha o atrapalhou e revela que seus sentimentos não mudaram.
Gilberto, boa parte dos jogadores costumam carregar um
passado de dificuldade e alguns até tentam fazer um marketing com isso. Como
você avalia o seu início de carreira?
- Não tem muito como fugir desse passado de dificuldades.
Sou do interior das Alagoas (cidade de Piranhas) e minha família sempre foi
pobre. Mas não vejo nada demais nisso. Na minha carreira, assim como a de
muitos jogadores, já tive que dormir no chão em algumas concentrações, mas isso
é norma. Quando cheguei no Santa, em 2007 deu uma melhorada.
Apesar de ter chegado ao Santa em 2007, você só veio fazer
sucesso com a camisa do clube em 2011. O que lhe fez demorar tanto a render?
- Quando cheguei ao Santa Cruz fiz três partidas nos
juniores e fui chamado para os profissionais. Então, creio que isso subiu à
cabeça e acabei perdendo o foco. Foi tudo muito rápido e não consegui segurar a
situação. Também não pude contar com ninguém da minha família e isso fez com
que eu me perdesse um pouco e tive problemas.
Geralmente, quando jogadores falam que tiveram problemas, é
algo ligado a sua vida pessoal. Foi o seu caso?
- O que aconteceu foi coisa de moleque. Tinha 17 anos e
cheguei ao Recife sem conhecer praticamente ninguém. Minha família morava longe
e acabei me deixando levar por má influências. Aí, sempre são as mesmas
situações, sair, balada... Mas consegui entender que isso não me levaria à
lugar algum e consegui focar na minha carreira. Hoje minha vida é jogar
vídeo-game, ver filme e ficar com minha família. Balada não leva você para
canto nenhum.
Em 2011 você era reserva do Santa Cruz e acabou sendo o
grande destaque da equipe. O que mudou do começo do ano até a conquista do
título?
- Eu queria vencer. O Zé me passou isso, todos me passavam
isso. Que eu tinha potencial, que eu tinha condições. Então botei na cabeça que
seria artilheiro e fui fazendo os gols. Tínhamos um grupo muito forte e uma
comissão técnica muito boa. Então, conseguimos. Não me sinto melhor do que
ninguém naquele grupo.
O título lhe levou ao Internacional, mas você acabou não
vingando com a camisa do Colorado. O que faltou para você se destacar lá?
- Difícil eu já sabia que seria. Mas não tive oportunidade
de mostrar meu potencial. Até porque o (Leandro) Damião estava fazendo gols de
todas as formas e não tinha como tirar ele do time. Além disso, você acaba
sentindo a mudança. O Santa Cruz é um clube grande, mas ainda não se pode
comparar com o Internacional. A estrutura é outra, a cobrança é outra e tive
dificuldades para assimilar as mudanças. Aí, acabei me prejudicando um pouco.
Foi por conta da falta de espaço que você decidiu acertar
com o Sport?
- Eu precisava voltar ao Recife. Eu tinha que colocar minha
cabeça no lugar novamente e precisava desse processo de amadurecimento. Saí de
um clube que estava disputando uma divisão inferior e fui para o Internacional,
que ganhou tudo nos últimos 10 anos. Então, tinha que jogar e mostrar meu
potencial e, para que isso acontecesse, eu escolhi um time de Série A.
Você também teve propostas do Náutico, que também é da Série
A. Por que justamente o Sport, que é o maior rival do clube que você acabou se
transformando em ídolo?
- A situação com o Náutico sempre foi especulação. Proposta
eu tive do Sport e chegou o momento que eu e meu pai decidimos que estava na
hora de voltar. Sou profissional e minha carreira precisava disso. Então,
acertei com o Sport, que certamente irá brigar pela posições de cima na tabela.
Durante a sua apresentação, você afirmou que seu pai definiu
que seu destino seria o Sport e você veio. Isso significa que você não escolhe
onde jogará?
- É 50% para cada lado. Ele avalia tudo e me mostra. Aí,
chagamos a um acordo. Até porque quem vai jogar sou eu. Mas não vou sem vontade
para lugar algum.
Como você espera a reação da torcida do Santa Cruz, que
sonhava um dia lhe ver de volta ao clube?
- Será difícil com as duas torcidas. Até porque existem
mágoas. Os torcedores do Santa pela identificação com o clube e os do Sport
pelo meu passado lá. Mas como venho falando, sou profissional, esse é meu
trabalho. Todo mundo pode mudar de emprego e eu precisava voltar para o Recife
e queria jogar na Série A.
Nas suas entrevistas você está destacando seu lado
profissional. Arrependeu-se de ter falado que nunca jogaria no Sport?
- Como profissional nunca deveria ter falado, mas falei. Foi
algo que ocorreu no passado e pretendo viver o presente e o futuro.
Por falar em futuro, como imagina um reencontro entre os
clubes, agora com você no lado rubro-negro?
- No futebol você deve ser profissional. Respeito muito o
Santa Cruz e a melhor forma de demonstrar isso é mostrando o meu potencial.
Assim como respeito a torcida do Sport, que estará esperando a vitória. Mas,
principalmente, respeito o clube que estou defendendo e minha carreira. Nunca
faltei com respeito a nenhuma torcida e nunca faltarei. Não sei se comemoraria
um gol, pois ninguém é besta e sabe que o Santa foi o clube que me projetou,
mas certamente vou fazer o melhor.
Antes de ir para o Internacional você era bastante tímido e
não gostava de dar entrevistas. Agora você parece bem seguro, o que mudou?
- Aprendi muito no Internacional. Lá os jogadores mais experientes
sempre falavam que eu tinha que aparecer mais, conversar mais e me mostrar. Aí,
fui vendo eles e fui aprendendo a ter mais segurança. Posso não falar bem, mas
sei me comunicar.
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(Foto:Wesley Santos/Futura Press/Agência Estado) |
Mesmo não tendo muitas oportunidades no Internacional você
parece ter gostado da experiência no clube. Acredita que a saída do Colorado
irá prejudicar o seu futuro?
- Todo mundo gosta de jogar no Internacional, é um clube bem
estruturado. Mas não vejo minha saída de lá como algo ruim. Era necessário para
o meu futuro.
E o que você espera do futuro?
- Meu desafio é chegar à Seleção. Mas se isso não ocorrer,
quero conseguir ter uma vida estruturada e dar boas condições aos meus pais.
Para chegar a Seleção você terá que superar a “maldição” da
camisa 9 do Sport. Nos últimos anos nenhum atacante conseguiu se destacar no
clube. Você teme esse retrospecto?
- Não. Como falei cheguei para fazer gols e vou fazer.
Camisa é só um número e isso não interfere nada no meu futebol. Vou entrar em
campo e dar o meu máximo. Certamente essa situação vai acabar.
Então sua meta é ser ídolo da torcida rubro-negra?
- Quero desempenhar bem o meu papel. Sei que existem as
desconfianças, mas espero conseguir mudar isso quando começar a jogar.
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